ENSINO DE TEATRO E AS POLÍTICAS DE
FORMAÇÃO DOCENTE
TEACHING THEATER AND TEACHER TRAINING POLICIES
Adilson Florentino
(CLA,
UNIRIO)
Luiz Eduardo Marques da Silva
(CCH,
UNIRIO)
Resumo
Este artigo tem como objetivo
levantar uma reflexão em torno da temática concernente à formação docente em
Teatro pelo viés das políticas públicas, bem como sugerir algumas competências
que podem fundamentar o debate em torno da formação de professores de Teatro.
Palavras-chave | formação docente | políticas públicas |
professores de teatro
Abstract
The objective
of this article is to dicuss the formation
of theatre teachers and the public policys needed to
improve the development of teachers education.
Keywords | teachers
formation | public policys | theatre teachers
O tema da formação
de professores de Teatro tem assumido uma especial significação no atual estudo
dos pesquisadores que atuam no campo da pedagogia do teatro. O alcance da
qualidade acadêmica na formação docente em Teatro não pode prescindir da
análise de um conjunto de fatores sociopolíticos, econômicos e educacionais.
Esta temática se insere numa rede de reflexão tecida por diferentes campos
disciplinares. No cerne das múltiplas perspectivas que atravessam as reflexões
em torno da formação do professor de Teatro assinalamos aquelas que dizem
respeito ao campo político e, mais especificamente, ao campo preenchido pelas
políticas de formação.
Os pontos de
partida e de chegada deste trabalho reflexivo pretendem abrir um espaço de
discussão e análise em torno da ausência de uma efetiva política de formação de
professores de Teatro no âmbito das políticas públicas em educação. Assim
sendo, a fim de propiciar uma melhor compreensão de nossa reflexão,
inicialmente buscaremos circunscrever o campo das políticas públicas, a relação
deste campo com o espaço educacional e conseqüentemente com a formação de
professores de Teatro.
Embora alguns
autores tendam a considerar as políticas públicas como programas de ação
exclusivamente governamental, como é o caso de Comparato (1997), Bucci (2002) e Cristóvam (2005),
nossa perspectiva tangencia-se com a abordagem de Rua (1997), Höfling (2001) e Lucchese (2002)
na medida em consideramos as políticas públicas como conjuntos de decisões e
ações que, conquanto possam advir ou possuírem suportes em procedimentos
governamentais, são (ou podem vir a ser) operacionalizadas tanto por
instituições estatais como também através de organizações da sociedade civil
com o objetivo de buscar soluções e/ou respostas a demandas oriundas seja da
sociedade como um todo ou de segmentos específicos.
Neste sentido, o
campo educacional que se apresenta como uma demanda universalizada das
sociedades contemporâneas encontra-se inquestionavelmente inserido no espaço delineado das políticas
públicas. E, conseqüentemente, todas as questões que se levantam, para o
desenvolvimento e aprimoramento de aspectos específicos da educação, por setores
a ela vinculados ou pelo conjunto da sociedade, ou ainda por segmentos desta,
têm que buscar respostas na concepção e implementação de políticas públicas em
educação na esfera de sua respectiva peculiaridade. E é, a partir da
consignação da especificidade da formação de professores de Teatro, como
questão que se apresenta ainda sem propostas que efetivamente tragam soluções
aos problemas que hoje se apresentam aos cursos de licenciatura a ela
destinados, que norteamos nossa reflexão.
A principal vertente
que põe em ação a nossa reflexão parte de uma visão inter/transdisciplinar dos saberes que redimensionam a lógica de
construção do conhecimento e seus processos de reprodução, ressignificando a
prática do professor de Teatro como um espaço de diversidade, do exercício do
pensamento, da problemática e transformação da teoria.
No bojo da
consideração da perspectiva crítica da pedagogia do teatro reside a
pressuposição de que o professor em formação construirá e reconstruirá os seus
saberes, questionará as suas verdades implícitas, promovendo a reflexão e a auto-reflexividade de suas próprias práticas e colocando no centro da
dúvida as suas certezas pedagógicas. O que está sendo assinalado nessa
pressuposição é o potencial crítico do pensamento prático dos professores de
Teatro.
A prática docente
em Teatro constitui uma prática social atravessada por múltiplas determinações
macro e micro contextuais de ordem histórica, social, política e cultural, bem
como se situa como uma prática de alta complexidade. Entre os pontos de
contradição ainda não abordados em profundidade no sistema educacional
brasileiro se encontra a emergência de um projeto de formação de professores de
Teatro para a educação básica.
As idéias aqui
apresentadas de forma sumária estão fundamentadas na nossa experiência
profissional como responsáveis pela formação inicial e continuada de
professores no âmbito dos cursos de licenciatura da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. A ausência de um projeto de formação de
professores que contemple os novos avanços sobre o ensino de teatro no
currículo escolar requer a atenção cuidadosa do exame do espaço sociocultural
que o teatro pode exercer no processo de escolarização.
Portanto, torna-se
urgente a elaboração de propostas relativas aos cursos de licenciatura em
Teatro que estabeleçam as competências para professor de Teatro a partir do
capital estético e epistemológico que dará constituição ao seu itinerário
formativo. No espaço dialógico sobre a questão em pauta, apresentamos as
seguintes competências, de caráter geral, que devem participar do processo de
formação inicial do professor de Teatro e que não integram as competências
inseridas nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Graduação em Teatro. Ei-las:
01. Domínio
dos conhecimentos teatrais a partir de uma perspectiva estética e de seu
conhecimento como um eixo fundamental do processo de ensino-aprendizagem.
02. Domínio
da organização curricular dos conhecimentos teatrais.
03. Capacidade
para a análise, interpretação e avaliação dos conhecimentos teatrais dos
estudantes através do conjunto de suas práticas, saberes e produções
cênico-dramatúrgicas.
04. Capacidade
de gestão dos conteúdos teatrais no processo de aula.
No que diz respeito
à especificidade do saber teatral, apresentamos as seguintes considerações:
01. Articular
os conteúdos do conhecimento teatral com os fenômenos estéticos que os
originam, reconhecendo os eixos formativos implicados em situações cotidianas e
em situações que procedam de outros campos artísticos e disciplinares.
02. Conhecer
as diferentes teorias de aprendizagem do conhecimento teatral.
03. Selecionar
critérios e procedimentos específicos para a avaliação do conhecimento teatral.
04. Utilizar
diferentes recursos e materiais e saber empregá-los no ensino de teatro.
05. Promover
o potencial cênico-dramatúrgico dos estudantes.
06. Habilidade
para organizar, selecionar e sistematizar os objetivos e conteúdos do currículo
do teatro na educação básica.
07. Capacidade
para analisar os processos de criação teatral.
08. Habilidade
para elaborar instrumentos de avaliação das práticas e teorias do teatro na
educação básica.
09. Capacidade
para realizar a análise didática dos temas relacionados ao teatro no contexto
escolar.
10. Capacidade
para analisar e avaliar propostas e materiais didáticos nas aulas de teatro.
11. Habilidade
para utilizar novos recursos tecnológicos nos processos de ensino-aprendizagem
do teatro.
Igualmente, cabe ao
professor de Teatro conhecer a história, a estética e a epistemologia do
conhecimento teatral em sua profundidade e extensão, principalmente sobre os
temas e conteúdos relacionados com o currículo da educação básica e com os
problemas derivados do ensino de teatro.
O desenvolvimento
das competências e considerações acima mencionadas deve constituir um
importante agente estruturador de um projeto de formação docente em Teatro
capitaneado por uma política pública entendida em função de seus diferentes
modos de intervenção na construção da consolidação do ensino desse saber-fazer
artístico.
Referências
BUCCI, Maria Paula Dallari. Direito
Administrativo e Políticas Públicas. S
COMPARATO, Fabio Konder. Ensaio sobre o juízo de constitucionalidade de
políticas públicas. Revista dos Tribunais, São Paulo, ano 86, n. 737, mar 1997.
CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva.
Breves considerações sobre o conceito de políticas públicas e seu controle
jurisdicional. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 797, set 2005.
HÖFLING, Eloísa de Mattos. Estado e
Políticas (Públicas) Sociais. Caderno Cedes, Campinas, ano 21, n. 55, nov.
2005.
LUCCHESE, Patrícia T. R. Políticas
Públicas em Saúde Pública. São Paulo: BIREME/OPAS/OMS, 2002.
RUA, Maria das Graças. Análise de
Políticas Públicas: conceitos básicos. Washington: Indes/BID, 1997, mimeo.
ADILSON FLORENTINO é
professor Doutor em Teatro da Escola de Teatro e do Programa de Pós-Graduação
em Artes Cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO.
ADILSON FLORENTINO, PhD is a Theater
Professor for the School of Theater and Scenic Arts Post Graduation Program at
the Rio de Janeiro State Federal University – UNIRIO.
LUIZ EDUARDO MARQUES
DA SILVA é Professor Doutor em Educação da Escola de
Educação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO.
LUIZ EDUARDO
MARQUES DA SILVA, PhD is a Professor of Education at the Rio de Janeiro State Federal University – UNIRIO.
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